Sua
boca toca a minha
como
quem toca o mundo
e
não como quem toca o nada.
enquanto
é minha língua que sente,
sua
boca, seu gosto raro,
que
combina tanto com o meu.
Meu
corpo colado no seu,
minha
alma entrelaça à sua
quando
sinto seus olhos
bem
dentro dos meus.
Nossas
línguas se acham
e
se perdem,
dançam,
se
acariciam
forte,
fraco, lento, rápido
como
as árias de uma ópera
ou
os movimentos de uma sinfonia.
Minha
mão no seu pescoço,
seus
cabelos entre meus dedos,
seu
sexo bem apertado contra o meu.
Seus
lábios sempre colados
me
mantendo conectado
e
na sua frequência modulado.
Na
boca sinto seu coração
e
constato que o beijo,
é
antes de tudo,
um
ato de sucção.
(Do livro Poesia só de Brincadeira de Marcos Pienta- Editora Chiado)
Conclamo todos a prestarem a
atenção no beijo. Beijo não é acaso, não pode ser de qualquer jeito, tem
ciência, tem que ser com carinho e com capricho. Uns já nascem sabendo, se
encaixam perfeitamente sem que nada seja dito. Outros não, é preciso um ajuste, coisa que com um toque se
resolve quando se tem aptidão e humildade
para aprender e alguém com a ciência de ensinar.
Um dia uma menina me ensinou que
beijo não pode ser de qualquer jeito, que não pode ser com a boca frouxa,
somente línguas se lambendo. Ela me mostrou de maneira exageradamente didática,
de modo que não precisei de outra explicação de como não fazer. Me disse que o
beijo tem que ser colado, duas bocas suavemente se sugando e as línguas sentem
o prazer do beijo, abraçadas, entrelaçadas e se acariciando. Ela me mostrou de
maneira suave e também didática para eu nunca mais esquecer como fazer. A essa
menina sou muito grato, pela sua didática infalível de apenas duas lições, uma
como não e outra como sim.
Para algumas pessoas depois eu
passei adiante essa lição. Umas ouviram humildemente, como eu fizera antes e
muitos beijos deliciosos foram colhidos depois. Outras ficaram putas com o
toque, se sentiram ofendidas e foi o fim, ou o começo do fim. Perderam por não
aprender, perderam os beijos gostosos que poderíamos colher e se foram, como
tinha que ser. Há quem também não de o
toque e simplesmente vaze. Perde também a oportunidade.
Por fim, ou começo de tudo, com
outra, o beijo se encaixou naturalmente, sem que uma palavra precisasse ser
dita, mas muitas palavras foram ditas e é ela que quero beijar para o resto da
vida.
Há quem justifique o beijo frouxo
dizendo que prefere-o ao beijo exageradamente apertado de exagerada sucção. Mas
nem um nem outro, a sucção é suave, variável em intensidade, como a música que
tem vários andamentos. O beijo é dança, tem o sabor de cair num abismo, é voar
e tocar o paraíso. Tem que ser sentido, para isso é preciso estar atento.
O beijo é onde tudo começa, é
onde as almas se encontram, é como elas se comunicam. É quem a máquina esquenta
e quem convoca todo o organismo para o amor. Beijo não se repete: é sempre
improviso, não cansa, quanto mais se beija, mais gostoso fica.
Beijar e trocar carinho faz muito
bem para a boca, para a língua, para o espírito e é muito gostoso. Combina com
tudo: com cachoeira, com praia, com o quarto, cozinha, banheiro, cinema, banco
de praça, sofá, combina com cerveja, com vinho e outras cositas mais, com tudo
que é belo, flores, pôr de sol, lua cheia, com luz de vela e luz de fogueira,
basta estar contigo, por isso quero te beijar para a vida inteira.
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