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quarta-feira, 2 de julho de 2014

A DELÍCIA E A CIÊNCIA DO BEIJO




Sua boca toca a minha
como quem toca o mundo
e não como quem toca o nada.
Seus lábios sugam os meus suavemente,
enquanto é minha língua que sente,
sua boca, seu gosto raro,
que combina tanto com o meu.

Meu corpo colado no seu,
minha alma entrelaça à sua
quando sinto seus olhos
bem dentro dos meus.
Nossas línguas se acham
e se perdem,
dançam,
se acariciam
forte, fraco, lento, rápido
como as árias de uma ópera
ou os movimentos de uma sinfonia.

Minha mão no seu pescoço,
seus cabelos entre meus dedos,
seu sexo bem apertado contra o meu.
Seus lábios sempre colados
me mantendo conectado
e na sua frequência modulado.

Na boca sinto seu coração
e constato que o beijo,
é antes de tudo,
um ato de sucção.
(Do livro Poesia só de Brincadeira de Marcos Pienta- Editora Chiado)



Conclamo todos a prestarem a atenção no beijo. Beijo não é acaso, não pode ser de qualquer jeito, tem ciência, tem que ser com carinho e com capricho. Uns já nascem sabendo, se encaixam perfeitamente sem que nada seja dito. Outros não,  é preciso um ajuste, coisa que com um toque se resolve quando se tem aptidão e humildade  para aprender e alguém com a ciência de ensinar.
Um dia uma menina me ensinou que beijo não pode ser de qualquer jeito, que não pode ser com a boca frouxa, somente línguas se lambendo. Ela me mostrou de maneira exageradamente didática, de modo que não precisei de outra explicação de como não fazer. Me disse que o beijo tem que ser colado, duas bocas suavemente se sugando e as línguas sentem o prazer do beijo, abraçadas, entrelaçadas e se acariciando. Ela me mostrou de maneira suave e também didática para eu nunca mais esquecer como fazer. A essa menina sou muito grato, pela sua didática infalível de apenas duas lições, uma como não e outra como sim.
Para algumas pessoas depois eu passei adiante essa lição. Umas ouviram humildemente, como eu fizera antes e muitos beijos deliciosos foram colhidos depois. Outras ficaram putas com o toque, se sentiram ofendidas e foi o fim, ou o começo do fim. Perderam por não aprender, perderam os beijos gostosos que poderíamos colher e se foram, como tinha que ser.  Há quem também não de o toque e simplesmente vaze. Perde também a oportunidade.
Por fim, ou começo de tudo, com outra, o beijo se encaixou naturalmente, sem que uma palavra precisasse ser dita, mas muitas palavras foram ditas e é ela que quero beijar para o resto da vida.
Há quem justifique o beijo frouxo dizendo que prefere-o ao beijo exageradamente apertado de exagerada sucção. Mas nem um nem outro, a sucção é suave, variável em intensidade, como a música que tem vários andamentos. O beijo é dança, tem o sabor de cair num abismo, é voar e tocar o paraíso. Tem que ser sentido, para isso é preciso estar atento.
O beijo é onde tudo começa, é onde as almas se encontram, é como elas se comunicam. É quem a máquina esquenta e quem convoca todo o organismo para o amor. Beijo não se repete: é sempre improviso, não cansa, quanto mais se beija, mais gostoso fica.
Beijar e trocar carinho faz muito bem para a boca, para a língua, para o espírito e é muito gostoso. Combina com tudo: com cachoeira, com praia, com o quarto, cozinha, banheiro, cinema, banco de praça, sofá, combina com cerveja, com vinho e outras cositas mais, com tudo que é belo, flores, pôr de sol, lua cheia, com luz de vela e luz de fogueira, basta estar contigo, por isso quero te beijar para a vida inteira.



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